sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Groucho Marx e os Tribalistas

Não é de hoje que eu tenho implicância com o conceito de tribos. Nada contra os brasileiros nativos (de pés descalços ou de havaianas). O alvo de minha implicância são as famosas tribos urbanas.

Esse conceito de ajuntamento de pessoas com mesmos objetivos e crenças que, teoricamente, não tem nada de mais e, pelo contrário, está na base da criação das sociedades civilizadas. Mas a coisa começa a desandar quando o conceito de tribo esbarra na tal da rebeldia.

É super radical ser punk, ou metaleiro, ou skatista, ou qualquer outro grupo de pessoas que nadam contra corrente e são contra-tudo-isso-que-está-aí.

Só que, da forma como enxergo, esses grupos acabam sendo ultra-reacionários e conservadores. Na verdade, mais conservadores do que o pessoal da TFP.

Por exemplo: digamos que você tenha um emprego bem convencional, daqueles que te obriga a ir arrumadinho para o trabalho e coisa e tal. Digamos que você trabalhe em um banco. Só que, por trás dessa carcaça mauricinha, você é um grande fã de metal. Daqueles que conhecem profundamente desde os medalhões do estilo, até aquela bandinha croata de Power-death-thrash-metal.

Então você decide, todo animado, a ir a um show do Pantera. Só que você teve de trabalhar até tarde e vai direto para o show sem ter tempo de ir em casa colocar sua fantasia de metaleiro. Calça social, camisa para dentro da calça, cabelo cortado, sabe o tipo? Então...

Bom, no meu mundo ideal, um metaleiro de raiz ia ver esse cara durante o show e dizer:

- Pô cara! Se eu cruzasse com você na rua, nunca ia adivinhar ia te encontrar aqui. Legal você curtir esse som também!

Mas, enquanto isso no mundo real:

- Que qui tu ta fazendo aqui, mauricinho?! Que qui tu entende disso?! Vai pra casa escutar pop seu playboyzinho de merda! Sai daqui antes que a gente quebre os seus dentes.

Bom, ele pode até não falar isso, mas vai pensar. A não ser, talvez, aquela parte dos dentes quebrados (pode ser que ele seja mais do tipo que quebra pernas, vai saber...).

Donde se conclui que até para ser rebelde você tem de seguir o manual.

Ou seja, se você quiser ser aceito como metaleiro, você tem de se vestir de preto, ter cabelo comprido (preferencialmente barba também), tatuagem, se comportar da forma X, falar da forma Y e andar do jeito Z (substitua “metaleiro”por qualquer outra tribo “rebelde” e continua sendo verdade). Ou, no mínimo obedecer a um número mínimo de regras deste conjunto (esse número mínimo deve ser estabelecido por algum órgão do tipo Sindimetal, ou Ordem dos Headbangers do Brasil).

Porra! Tem mais regras do que para se filiar ao Iate Clube.

Que rebeldia é essa que te entrega, ainda na entrada do círculo tribal, um manualzinho com dezenas de regras que você tem de obedecer à risca, sob pena de ser expulso da tribo com desonra e sob apedrejamento (Connor McLeod mode: on).

Rebeldia pode até ser ir de coturno e calça rasgada ao Teatro Municipal, mas também é (talvez muito mais) ir de smoking ao show de punk rock. Rebeldia é fazer as coisas como e quando quiser, e não seguir um monte de regras babacas.

Ahn? O que Groucho Marx tem com essa história?!

Boa Pergunta.

É que, em relação a este assunto, eu sigo a máxima marxista (do Groucho claro, não daquele outro barbudo carrancudo) de que eu nunca entraria para um clube que me aceitasse como sócio.

4 comentários:

Camila disse...

Hahahaha, sensacional, penso o mesmo...
Ja passei por isso e passo ainda, já q sou professora de ed. infantil e o mundo acha q por conta disso devo ser sempre "doce e meiga" e gostar de coisas mega coloridas, como se a criança fosse eu...
As tais tribos estão mais para pseudo sociedades dentro da sociedade já estabelecida e nós, mortais metaleiros ou não, se quisermos nos "associar", temos que passar por todo um crivo...
Seu texto está incrível...faz pensar...

Persiolino disse...

Varotto meu amigo, eu também já passei por algo semelhante e costumo ser surpreendido. Como sempre ando arrumadinho, e tenho cara de nerd, as pessoas ficam surpresas quando eu vou e saio pra beber com amigos ou me encontram numa balada. É preconceito mesmo. Por isso não gosto de fazer nenhuma espécie de julgamentos de pessoas que conheço ou conheci.
Enfim, você quer escrever para o 1001 Covers??? Se quiser, me mande um email para persio.kojima@gmail.com...Seria muito bom tê-lo como colaborador. Vejo que você sempre nos indica boas covers...
Abraço

MaxReinert disse...

hauhauhaua...pois é... somos todos extremamente diferentes e inovadores iguais a todos na nossa tribo!

Mas, eu nunca compreendi porque as pessoas são tão excludentes no seu dia-a-dia .

Diferente = errado?

O mundo poderia ser tão mais interessante!

Anônimo disse...

Mad god, adorei seu dog, ops, seu blog!
Bom pretexto pra esse texto, kié de regras posto, inda que contrasposto ao seu/nosso posto de cotrapor-se ao que está por tribos- tantas- SEMPRE posto...