terça-feira, 18 de agosto de 2009

Em tempo...


Quem me conhece, ou já leu o que eu penso sobre nostalgia, já sabe que eu me considero um nostálgico esclarecido, então não preciso mais me explicar sobre isso.

Mas ultimamente, e cada vez mais, tenho me pego revoltado com essa ditadura do tempo. Nada relacionado ao medo de notar que cada dia que passa é um a menos para nossa morte, já que (pelo menos por enquanto), não costumo gastar energia pensando nisso.

O que me tem deixado revoltado são os privilégios do espaço sobre o tempo. Parece que, parafraseando Orwell, aparentemente todas as dimensões são iguais, mas algumas são mais iguais do que outras.

É melhor eu começar a me explicar antes de vocês acharem que estou louco, bêbado, ou qualquer mistura dos dois.

Todo mundo já foi a um lugar do qual gostou muito, certo? Qual a solução, então, se você sentir saudade ou uma grande vontade de estar novamente nesse lugar?? Você simplesmente vai até lá! E pronto... resolvida a situação.

E se a vontade for relacionada a uma época, e não a um lugar? E, então? A não ser que você tenha um certo DeLorean na sua garagem, vai ter de se contentar com suas lembranças.

Por que esse preconceito?! Por que quando a coisa muda de ONDE para QUANDO, não há solução razoável. Essa situação tem me deixado louco (acho que o fato de estar lendo, no momento, a “trilogia de quatro livros” do Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams, não tem ajudado muito*).

Cheguei em um ponto que o efeito “máquina do tempo” alimentado à base de lembranças, não parece estar sendo suficiente. Então fico sonhando com outras soluções...

Acho que uma máquina do tempo clássica, que transportasse seu corpo para a época e blá-blá-blá (vocês conhecem o tipo), nem seria o ideal. Talvez o melhor fosse transportar sua consciência para seu corpo na época, ou até mesmo (vejam como sou um cara razoável), transportá-la só como observadora. Algo como um aluno ouvinte do curso do tempo.

Se bem que essa última opção pudesse ser um pouco desagradável, já que nos obrigaria a assistir, completamente impotentes, a situações potencialmente constrangedoras. Imaginem só a cena: Aquela festinha, aquela gatinha, tudo, aparentemente, no lugar e hora certos...

“Isso, garoto! Pega a mão dela. Isso... Até aí tudo bem, ela ainda não percebeu o quanto você está bêbado (e ela também). Agora, isso... aproveita! Beija a menina! Agora! Tenha a coragem que eu não tive. Efeito borboleta é o catzo! Peraí que cara é essa?! Não vomita em cima dela não! Não, de novo n... Sai daí, sai daí, sa... ”

Ai, ai... Eu me mato de vergonha.

Bom, mas na maior parte das vezes ia ser legal...

Provavelmente...

Talvez...

O fato é que esses pensamentos têm me acometido com certa freqüência, então resolvi passar para frente a idéia de fazer uma pressão popular para exigir a revogação da inefabilidade do tempo. Quem sabe uma campanha do tipo “Abaixo o relógio – por um tempo plano”, ou então “A consciência é minha e eu largo ela onde (ou quando) eu quiser”, sei lá...

Enfim, não sei se “no meu tempo que era bom”, mas que eu queria dar uma olhadinha lá, eu queria...

E como diria aquele grande profeta, Pierre de La Boulangerie:

“O sonho não acabou, já vão repor, mas separa um aí para mim enquanto estou na fila do pão.”


* Comprei o "Guia do Mochileiro das Galáxias" outro dia, para ter o que ler no avião e, antes de chegar na vigésima página, já me perguntava sobre como eu pude viver até aqui sem ler esse livro. Cheguei em casa e encomendei todos os outros livros do autor. A forma como é escrito e o humor surreal são simplesmente irresistíveis. Recomendo a qualquer forma de vida baseada em carbono do Universo.


Atualização
P.S. : Respondendo a inúmeras perguntas, que eu mesmo me fiz, sobre o evento passado aqui descrito, esclareço que é completamente fictício. Pelo menos a parte do vômito (o resto é provável...).

8 comentários:

Climão Tahiti disse...

Taí uma boa sugestão.

Quando terminar de ler, lerei esse. Queria ler algo diferente faz tempo.

Muito bom, espero viajar como você está viajando ao ler. =p

Varotto disse...

Bom mesmo é ler logo os quatro, o que não chega a ser uma maratona, pois deve dar para matar cada um com umas três horas de leitura.

MaxReinert disse...

Com certeza o tempo é a variável mais escorregadia que conheço... assim como a morte, que assusta exatamente por fazer com que uma pessoa deixe de habitar o espaço. Coisas efêmras somos nós, não?

Barbarella disse...

hahaha fiquei imaginando a cena de você vomitando na menina e me dei conta que um dia, lá atrás(há uns 10 anos, já fiz isso, eu, numa festa, bêbada, quando chegou um rapaz com uma pergunta que acho que era mais ou menos assim: "você é sempre linda assim gata??" e eu, bem, chamei o famoso rauuuuulll na hora.Eu tinha realmente bebido muito e ele chegou na hora errada. Bom nem preciso dizer que nunca mais o vi o rapaz.

Ler no avião é sempre bom, mas melhor ainda é quando tem com quem conversar sobre o livro...


depois de 3443 dias tb atualizei meu blog... sei lá, sobrou um tempinho no lanche da tarde.

Barbarella disse...

Têm livros que quando começo a ler o entusiasmo é tanto que também me pergunto como eu pude viver sem ler esse livro até hoje. Seguindo sua dica este livro "Guia do Mochileiro das Galáxias" será um que vai entra, ou melhor já entrou para minha lista(mentira, não existe lista, ele será o próximo).

Varotto disse...

Em relação ao vômito, (in)felizmente a cena é fictícia (mas poderia não ser).

Quanto ao livro, só há um problema: você vai ter de comprar todos os quatro. Primeiro porque não vai conseguir conter a vontade de ler os outros; e, depois, porque ele termina meio vago e acaba continuando no seguinte ("O restaurante no fim do Universo").

Mas, enfim, é improvável (embora não impossível) que você não goste.

E para melhorar tudo, o preço médio de cada um dos livros, na Internet, fica em torno de somente R$15,00.

Rômulo Rodrigues disse...

Dica anotada.

Tem certeza de que a cena do vômito não foi real? Talvez a bebida tenha feito com que você tivesse vagas lembranças da noite anterior... rsrs

Crisolda disse...

“O sonho não acabou, já vão repor, mas separa um aí para mim enquanto estou na fila do pão.” Pierre de la Boulangerie

KKkkk.. Muito prazer, Sr. Varotto. Sou leitora do Champ, e creio que agora sou leitora do seu blog também! :D