segunda-feira, 29 de junho de 2009

Paradinha

A primeira vez que ouvi “22: The death of all romance”, da banda canadense The Dears, foi também a primeira vez que assisti a seu vídeo clip, então fica difícil para mim separar as duas coisas. Mas uma coisa é certa: foi paixão à primeira vista. Além de achar a música maravilhosa, o clip passou a ser, automaticamente, um de meus preferidos de todos os tempos. O desespero do fim dos tempos e o final intensamente triste, contrastando com a história de amor entre dois ursos de pelúcia produziram, a meu ver, uma obra de arte. Assistam. Vale muito a pena.


______________________________________________________

O guitarrista sueco Mattias Eklundh é, guardadas as proporções, herdeiro direto do inconformismo irônico de Frank Zappa. Suas letras afiadas e experimentalismo, empurrando a guitarra a novas fronteiras, são prova disso. Então, para seu deleite (ou não), deixo aqui uma pérola de um de seus projetos, a banda Freak Kitchen. Certamente vai agradar mais aos fãs de guitarras distorcidas, mas, mesmo se não for o seu caso, vale a pena prestar atenção na letra.


Speak when spoken to


There’s something foul with my oral opening
I can not seem to control it, I object to everything
You know, I’m talking all the time

But I’ve got bupkiss to say
The ka-ka my vocal cords produce

Even outdid my ass today

Shut up!
Shut up!
Shut up!

Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to

Pseudo-provocative, I haven’t got a clue
What I’m referring to, I just argue ’til I turn blue
The sound of my own voice gives me

An intellectual high
I get off on my own arrogance

I’m so cynical I could cry

Shut up!
Shut up!
Shut up!

Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to

My mouth’s in good shape
My lips are itching
Spare me some duct tape

Blah, blah, blah, blah, blah
Blah, blah, blah, blah, blah

Shut up!
Shut up!
Shut up!

Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to

______________________________________________________

Eu sempre gostei da banda Level 42 (quem tiver mais de 30 anos, certamente vai saber do que estou falando), mas meu conhecimento não ia muito além dos sucessos radiofônicos na década de 80. Porém, há algum tempo tomei um contato mais profundo com a obra da banda e de seu líder, o baixista e vocalista Mark King. Foi aí que descobri que este camarada é, simplesmente, um dos maiores baixistas que já tive o prazer de escutar. As linhas de baixo complexas que executa enquanto canta, parecendo não fazer o menor esforço, ganharam minha admiração no ato. Desafio qualquer um a assistir a esta interpretação de “Mr Pink” e não terminar completamente chapado.



E, para quem quiser ir além, “Love games”. Não é muito conhecida por aqui, nem tem grandes demonstrações de virtuosismo, mas é uma das minhas preferidas da banda. Um primor...




Será que eu vou virar bolor?*

Um é brasileiro.

Fundador, ao lado do irmão e de uma ruivinha espevitada, de uma banda que revolucionou a música popular de sua época, misturando o, ainda jovem, rock’n’roll a elementos típicos de nossa cultura e, inaugurando em grande estilo a psicodelia tupiniquim. Dono de idéias originais, drogou-se tanto quanto quis (e quis muito). Se atirou do terceiro andar de um hospital psiquiátrico enquanto tentava escapar e, como conseqüência, fraturou o crânio, perdeu massa encefálica e ganhou seqüelas que o acompanhariam a partir daí. Passou a viver em retiro, pintando quadros e gravando de forma bissexta. O que ainda faz até hoje. É considerado um gênio da música de seu tempo.

O outro é inglês.

Fundador de uma das maiores bandas de rock do mundo, que sobreviveu a décadas de mudanças, apresentou ao mundo o chamado rock psicodélico. Drogou-se tanto quanto (ou um pouco mais do que) possível o que, associado a um perfil esquizofrênico, o levou a trancar-se, de forma irreversível, dentro de si mesmo. Gravou algum material após ser expulso da banda que ajudou a formar e da qual era, até então, principal compositor. Ao decidir abandonar completamente a música, passou suas décadas finais morando no sótão da casa materna e pintando. Permaneceu em ostracismo auto-infligido até sua morte, devido a um câncer pancreático, aos 60 anos. Também foi, e ainda é, considerado um gênio musical.

Se é que alguém ainda não notou, estamos falando de Arnaldo Dias Baptista e Roger “Syd” Barrett, fundadores, respectivamente, das bandas Os Mutantes e Pink Floyd, e donos de trajetórias assustadoramente similares.

Por conta do recente lançamento do documentário “Loki”, sobre a carreira de Baptista (ao qual ainda não assisti, mas pretendo), que coincidiu aproximadamente com o término de minha leitura da biografia de Barrett “Crazy Diamond”, uma antiga idéia voltou a martelar em minha cabeça.

O paralelo entre genialidade e loucura.

Loucura, entendo e concordo, é um conceito relativo e extremamente frágil. Se jogar de uma ponte amarrado pelos pés, ou mesmo subir em um veículo muito mais pesado que o ar para voar, pode, dependendo de quem analisa, ser considerado loucura. O conceito de genialidade, embora um pouquinho menos plástico que o de loucura, também não deixa de ser bastante subjetivo podendo se estender, por exemplo, até a pessoas que jogam aleatoriamente tintas em uma tela.

Mas porque todo louco ou, sendo politicamente correto, ser desprovido de razão de acordo com os preceitos aceitos socialmente (ou S.D.D.R.D.A.C.O.P.A.S), parece ganhar o epíteto de gênio com mais facilidade que o resto.

Tenho uma certa dificuldade em aceitar isso.

Admiro muito os dois artistas citados, e concordo que ambos tiveram importantes papéis na música popular de seu tempo. Sempre admirei os Mutantes e quanto ao Floyd, por muito tempo na minha adolescência, minha preferência, inclusive, recaia sobre a fase Barrett. Tenho todos os discos de ambas as bandas, mas enxergo a coisa de outra forma: acho que são simplesmente pessoas com boas idéias musicais, que acabaram sendo mais valorizados devido à fama de loucos. Revolucionários, talvez, em seu contexto histórico e local, mas minha implicância reside no fato de qualquer coisa produzida por eles, automaticamente, ser taxada como genial. Se eu não estiver conseguindo passar corretamente a idéia, acho que essa tirinha dos Skrotinhos, do Angeli, retrata bem o que quero expressar:

Qualquer um que analisar friamente a carreira solo de nossos protagonistas vai enxergar que uma parte significativa é formada por idéias nem ao menos minimamente aproveitáveis, e que se fossem cometidas por qualquer outro de nós, meros mortais, seriam motivo de chacota. Para uma idéia melhor do que estou querendo dizer, escutem o último disco solo de Baptista, “Let it Bed”, que re-escuto enquanto escrevo esse texto, como que para dar uma última chance. Mas não... Arnaldo que me perdoe, mas não dá. A recepção efusiva da crítica à seu lançamento só aumenta o contraste quando notamos quão fraco é o material.

Tenho uma história pessoal que reflete bem essa questão do subjetivimo artístico. Como já torturei muitos amigos próximos com esse falatório, se você é um deles pare de ler por aqui.

Há alguns tempo visitei o museu de arte moderna de Paris e, embora tenha visto coisas muito legais, fiquei um pouco revoltado com outras que, nem sob tortura, admitiria como arte. Então, após algum tempo tirei uma foto admirando o alarme de incêndio do corredor como se fosse uma obra de arte.

Nesse momento uma mulher que trabalhava no museu, chegou soltando fogo pelas ventas, e me proibindo de tirar a foto. Sendo pego de surpresa e como se tratava de um equipamento de segurança, achei que houvesse regras quanto a isso e, simpaticamente, argumentei que poderia apagar a foto.Mas ela continuou me perguntando sobre a foto e aí eu vi que ela tinha entendido perfeitamente minha intenção e tinha ficado ofendida com ela. Quando enxerguei isso encerrei a discussão, dizendo secamente que tirei a foto porque quis, e ela saiu pisando forte.

A prova do crime

Agora vejamos: euzinho aqui um mero mortal tento me expressar de uma forma, diga-se, mais inteligente do que boa parte das obras daquele museu, e sou veementemente recriminado. Se eu fosse um "artista", com roupa de artista, cara de artista, crachazinho de artista e com algum crítico respeitado me chamando de artista (e, talvez, com uma boininha artística na cabeça), poderia expor aquela foto naquele mesmo museu, chamá-la de "Revolta - uma crítica à banalização da arte" e a mesma mulher furiosa, estaria me aplaudindo e cobrindo de elogios. Afinal arte não é sobre ousadia e causar uma reação no público?

Não sou defensor incontestável da arte como conceito puramente clássico, e sou capaz de admirar até um quadro pintado pelo balançar da cauda de um jumento. Se meu cérebro entender aquilo como uma combinação legal de cores e formas, para mim basta.

Só não me venham querer explicar as motivações do jumento, nem taxarem a pobre montaria de genial.
Fazer uma coisa diferente e/ou esquisita não faz dela, necessariamente, uma obra de arte. Mas acontece que quando alguém, teoricamente habilitado a fazê-lo, baixa o decreto de que aquilo ali é uma obra de arte, todas as ovelhas vão atrás aplaudindo.
DuChamp que me perdoe, mas expor um mictório de banheiro masculino em um pedestal, e nomear a isso de ready-made art , por si só não o faz arte.

Poder até ser que todo gênio seja, de alguma forma, louco, mas considerar o contrário essencialmente verdadeiro é, como se diz mesmo?

Ah, lembrei! Loucura.

* O título do post vem da faixa de abertura de Loki?, primeiro álbum-solo de Arnaldo Baptista, lançado em 1974, e que, vamos ser justos, é bem melhor do que o "Let it bed".

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O Sentido do Vida

A primeira vez que assisti a algum material do Monty Python, foi na minha adolescência. Gravei “O cálice sagrado”, que passou em uma sessão na madrugada, para conferir depois. Lembro de, ao assistir ao filme com meu irmão, ter repetido aquela cena dos cavaleiros que dizem Ni uma dúzia de vezes seguidas, sem conseguir parar de rir.

De lá para cá, assisti a outros clássicos do grupo como “A vida de Brian” e “O sentido da vida”, me tornei fã absoluto dos filmes do Terry Gilliam (principalmente, mas não somente, de “Os 12 macacos”), admirador de tantos outros dirigidos e/ou estrelados por outros membros do elenco, e tomei contato com o “Monty Phyton’s Flying Circus”, programa transmitido, na Inglaterra, pela BBC entre os anos de 1969 e 1974.

Na minha visão, o Python é como jiló, ou você gosta de verdade ou não. Sou capaz de assistir por horas seguidas a seus esquetes de humor anárquico e non-sense, mas consigo entender perfeitamente que o que torna sua produção tão atraente a meus olhos seja, exatamente, o que repele parte do público. Estes acham seus quadros as coisas mais bestas e sem graça do mundo (por algum motivo ainda ignorado pela ciência, esse grupo é formado em sua maioria por mulheres).

Enfim, por que isso agora? A questão é que recentemente assisti a um vídeo sobre o memorial de Graham Chapman.

Chapman foi um dos seis Python, e talvez seja conhecido pela maioria no papel de Rei Arthur em “O cálice sagrado” e como o protagonista de “A vida de Brian”. Em novembro de 1988 teve diagnosticado um raro tipo de câncer cervical morrendo, aos 48 anos, em 4 outubro de 1989, véspera da exibição do programa de comemoração do vigésimo aniversário da primeira transmissão do Flying Circus, para o qual ainda havia conseguido gravar algumas cenas. Seu colega de elenco, Terry Jones classificou esse fato como o pior caso de fura-festa em toda a história.

Mas então, o vídeo.

Essa filmagem mostra um memorial em sua homenagem, ocorrido cerca de dois meses após sua morte. É interessante observar como um momento que teria tudo para ser introspectivo e carregado de tristeza, é completamente subvertido pelos colegas de Chapman. A princípio causa um pouco de estranhamento ver piadas em um momento como esse, o que contraria todas as nossas tradições e instintos, mas é tocante ver como mesmo obviamente sofrendo com sua ausência, seus amigos prestam uma grande homenagem na forma que achavam que Chapman teria preferido. São feitas várias referências a momentos Python, como o esquete do papagaio morto, logo ao início, e a música "Always Look on the Bright Side of Life" de “A vida de Brian”, ao final

Muito bonito.

Acho que eu gostaria de ser lembrado desta maneira.



E aqui, para quem não conhece, a interpretação original de "Always Look on the Bright Side of Life" no filme, com o próprio Chapman crucificado, como Brian.



E o esquete do papagaio morto:

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Água mole em pedra dura...

Então, aconteceu...

Depois de muita gente me perturbando insistindo, finalmente resolvi passar para o lado de lá (ou de cá, já que já estou escrevendo isso aqui no blog). Devo essa minha decisão a um punhado de bons amigos, bloguistas juramentados, que, como já disse me pentelharam fizeram questão que eu passasse a mostrar um pouco do meu eu (já que seria mais difícil mostrar o seu você ou o deles eles).

Seria injusto de minha parte não citar também como pentelhador catalisador dessa idéia meu irmão mais velho, que chegou a ameaçar abrir um blog em meu nome e escrever um monte de barbaridades, para que eu tivesse que assumir o leme para salvar minha honra.

Sobre o nome, confesso que o processo foi completamente dadaísta. De uma lista de nomes absolutamente díspares e praticamente aleatórios, esse me soou legal. Depois que eu imaginei usar a imagem de Bufford "Mad Dog" Tannen (vide "Back to the Future 3"), não adiantava mais negar. Tinhamos um vencedor.

Vocês devem estar se perguntando sobre o que vou escrever aqui, qual será a linha mestra que conduzirá minhas divagações.

Boa pergunta...

...


Não, é sério, boa pergunta mesmo.

Eu não faço idéia.

Entre outros exemplos, não tenho o dom de transformar as mínimas coisinhas cotidianas em épicos grandiosos, como o Rob, guru de todos nós. Ou a sensibilidade poética da Barbarella. Ou a visão lírico-psicopato-romântica do Tyler...

Ou seja, definitivamente, este não será um blog temático (traumático talvez).

Então vocês vão ter que se contentar comigo mesmo. Mesmo que por vocês entenda-se aqueles grilinhos que ficam fazendo barulho nos desenhos para mostrar que não tem ninguém por perto.

Se nem os grilos conseguirem suportar, reclamem com meus incentivadores.

Sendo assim,

3, 2, 1, vai!

P.S.: Peço um pouco de paciência aos grilos porque pode levar um tempo até eu me acertar com essa realidade...

P.S.2: Agora a sério, obrigado a meus incentivadores. Espero que vocês não tenham criado um monstro.

P.S.3: Como, diabos, se consegue formatar o texto com aquele efeito de riscado?! (Consegui! Valeu, Tyler)