segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

(Not so) Funny vibes

Nunca confie em alguém que diga que não tem preconceitos.

Porque é virtualmente impossível, por mais que nos esforcemos, que nos livremos completamente de todos os vestígios dessas tais idéias pré-formadas. Mas isso, definitivamente, não quer dizer que tenhamos de nos conformar com isso.

Eu faço a minha parte, tentando manter o nível de conceitos prejudiciais o mais baixo possível. E quem me conhece de perto sabe, ou deveria saber a esta altura, que sou um dos grandes defensores da idéia de que qualquer um pode fazer o que quiser da sua vida, desde que não atrapalhe a vida de ninguém. Às vezes defendo isso com tanta disposição que, por exemplo, no caso do homosexualismo, deve ter gente por aí achando que sou gay enrrustido, ou até lider de uma das boas entidades do ramo.

Chegando então ao racismo, considero esta uma das formas mais abomináveis de pensamento que pode existir. Vou ter de passar ainda por mais umas 157 vidas para conseguir entender como alguém pode automaticamente se conceber melhor do que outro, simplesmente pela cor da pele, ou formato do rosto, ou qualquer outra diferença física. Por essas e outras que, apesar de advogar a idéia de que em piada vale (quase) tudo, por uma questão de princípios não passo piadas racistas à frente (e para falar a verdade nem costumo achar graça mesmo), devido ao potencial para danos que isso tem.

Por outro lado, sou contra extremismos, e acho a cota racial para universidades, por exemplo, uma das idéias mais equivocadas dos últimos tempos (e acredite várias pessoas negras, de bom senso, acham o mesmo) . Assim como essa idéia de compensação por atos ocorridos há gerações e gerações. Acho que temos de lutar com todas as forças para garantir que essas abominações não ocorram nunca mais. Mas se formos entrar nessa onda de compensar, além do fato de que suas consequências pesariam sobre pessoas que não tem relação alguma com o fato gerador (ou você condenaria à prisão uma pessoa porque seu pai, um assassino já morto, não pôde pagar por seus crimes?), começa a complicação: quanto tempo temos de voltar? Falando de questões sociopolíticas, por exemplo, se voltarmos 2000 anos, vamos ter de devolver metade do mundo a Roma.

Mas enfim, isso é conversa que não dá para esgotar aqui, então vamos ao fato que me impulsionou a falar aqui sobre racismo. Recentemente assisti a um filme e revi um videoclipe que me fizeram revisitar o assunto.

O filme é "A hora do show" ("Bamboozled", 2000), de Spike Lee.



Nele, o único produtor negro de uma grande rede de televisão, pressionado por seu superior a criar um atração que renda público, resolve criar um programa que chocaria a opinião pública sobre a questão racista e, consequentemente, o faria ser demitido (o que era seu desejo naquele momento).

Nesse show, dois negros encarnariam os estereótipos mais ofensivos possíveis do vagabundo, malandro e preguiçoso e, a cereja do bolo, atuariam com suas caras pintadas de preto, como era comum em filmes da primeira metade do século XX, nos quais eram permitidos apenas atores brancos com as caras pintadas.

Por mais que possamos admitir que, em alguns momentos, o filme carrega um pouco nas cores, ficando meio panfletário e, talvez, um pouco exagerado, ele torna-se é um reflexo muito competente de como funciona o racismo que permeia a sociedade (principalmente a norte americana). E o que começa como uma "brincadeira" adota tons trágicos culminando em um final chocante.

É impressionante enxergar como situações que parecem tão surreais, se refletirmos direitinho, encontram tanto eco na nossa realidade, e como acabamos não notando como isso pode prejudicar tanto a vida alheia.

Fica a dica de um bom filme sobre o assunto.

Indo em frente, vamos à música:

Primeiro, se alguém não conhece o Living Colour, não sabe o que está perdendo, mas é uma banda nova-iorquina formada na década de 80, cujos dois primeiros discos "Vivid" (1988) e "Time's Up" (1990), na minha humilde opinião, deveriam constar na discoteca básica de qualquer um que goste de rock. Recomendo di com força.

A música em questão é "Funny Vibe" um petardo funk-rock que diz, sem floreios:

No, I'm not gonna rob you (Não, eu não vou te roubar)
No, I'm not gonna beat you (Não, eu não vou te bater)
No, I'm not gonna rape you (Não, eu não vou te estuprar)
So why you want to give me that Funny Vibe! (Então por que você me dá essa sensação esquisita)

No, I’m not gonna hurt you (Não, eu não vou te machucar)
No, I’m not gonna harm you (Não, eu não vou te causar mal)
And I try not to hate you (E vou tentar não te odiar)
So why you want to give me that Funny vibe! (Então por que você me dá essa sensação esquisita)

E a tônica do videoclipe, assim como o filme de Spike Lee, é calcada exatamente nos estereótipos.

O protagonista, um negro de classe média é visto pelos brancos como um mistério porque não se encaixa na imagem do rapper, jogador de basquete, cafetão ou malandro de rua, mas mesmo assim, ou talvez por conta disso, é enxergado como uma ameaça. Já entre seus "iguais" ele também parece não se encaixar, aparecendo de terno em uma quadra de basquete de rua e tentando, ridiculamente, controlar uma bola.

Esse videoclipe também é uma ótima peça de reflexão sobre o assunto.

O fato é que o mundo poderia ser muito mais simples se as pessoas fossem menos complicadas...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Rapidinha

Desde sempre se diz que lugar de mulher é na cozinha, ou pelo menos que cozinhar é coisa de mulher.

Mas quando se trata da chamada haute cuisine, que é quando estar na cozinha dá status, e dinheiro, aí a coisa se inverte e a cozinha passa a não mais ser lugar de mulher.

Como diria Church Lady: "Isn't that special?"

O Fundo da Linha

Muito se fala de como certos empreendimentos, como empresas de petróleo, ou indústrias em geral, são grandes vilões em termos de impactos ambientais. É ÓBVIO que essas atividades tem de ser controladas e marcadas sob pressão. Afinal de contas, somos humanos e, como todos sabem, a humanidade não deu certo.

Mas se eu te dissesse que a pesca pode vir a ser mais danosa, em termos de impactos ambientais, do que uma empresa petrolífera bem controlada?

A maior parte das pessoas não faz idéia do potencial de destruição de um "bom" arrasto de fundo, mas talvez este vídeo as faça mudar de idéia.

E antes de pensar que se trata de alarmismo de verdinhos histéricos, e que os oceanos são enormes e que os efeitos são desprezíveis, aí vai uma advertência: arrastos em águas profundas são CAROS, MUITO CAROS, então nenhuma empresa entraria nessa se pudesse continuar realizando a pesca industrial junto à costa. Só não mais o fazem porque a pressão de pesca nas últimas décadas tem sido tal que os estoques, de forma geral, se depletaram, mal servindo, hoje em dia, à prática da pesca artesanal. Então eles tem de ir, literalmente, cada vez mais fundo.

Assitam ao vídeo e tirem suas conclusões:




P.S.: É lógico que sendo este vídeo produzido pelo Greenpeace, e tendo este grupo a fama de alarmistas e radicais, muitas das vezes justificada, vocês podem pensar que ele é parcial. Mas quem tiver curiosidade, e resolver ir em busca de maiores informações, vai acabar chegando a conclusão de que esta atividade tem de ser controlada.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A verdade está lá fora...

- É sério, eu soube disso ainda ontem.

- Impossível!

- Cara, é verdade! Fonte garantida!

- Porra nenhuma!

- Tô te falando. Não é desses boatos de internet não. Meu irmão disse que viu.

- Deixa de ser mentiroso, essas coisas não existem.

- Rapaz, eu ia tá aqui botando minha mão no fogo se não fosse garantido?!

- Cara, tu bota a mão onde quiser, só não vem com uma besteira dessas pra cima de moi.

- Tem até foto! Tu acha que imagem mente? Nunca ouviu falar que uma imagem vale mais do mil palavras?

- É, mas uma imagem montada não vale nem uma mariola. Tu é muito ingênuo...

- Então tá! Não quer acreditar, não acredita. Mas dizem que existe mesmo uma adolescente, parece que no norte do Canadá, que não gosta de Crepúsculo, que não passa nem amarrada na porta do cinema que estiver passando Lua Nova, e diz até que esse negócio de vampiro adolescente marombado é coisa de quem não tem mais o que fazer.

- Mentiroso da porra...

Quem acredita vê...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Bowie e o Barão

Alguém aí já ouviu falar em José Maria da Silva Paranhos?


Ninguém?


Renomado Diplomata, Ministro de Estado, geógrafo e historiador, o cara suou a camiseta para adicionar todas essas funções, e outras mais, ao currículo.

Mas você deve mesmo conhecer o camarada pelo seu tão propalado título nobiliárquico de Barão do Rio Branco.

Ainda nada?

Mas quantos anos você tem? Vinte e cinco???

Ah! Então está explicado. Pois o grande barão, que além de todas as funções já citadas, virou sinônimo de 1000, ao figurar altivo e garboso na boa e velha (mais velha do que boa, na verdade) nota de Cr$1000,00 (mil cruzeiros, para quem não está acostumado a esssas velharias), hoje ostenta, tímido, seu bigodão na moedinha de R$0,50. Santo rebaixamento, Batman!


Olha o bigodão aí, geeente!

E o David Bowie? Esse você deve conhecer...

Ahn?!

Não me venha de novo com essa conversa de vinte e cinco anos! Velho é o cacete! Esse você tem de conhecer!

Você sabe: nascido David Robert Jones na Inglaterra, estreou nas paradas desde 1969 e deve ter gostado da coisa, pois está nas bocas até hoje. Pioneiro do Glam Rock, camaleão do rock, dizem que tirou o nome artístico das facas Bowie, blá, blá, blá... Então, esse mesmo.

Mas o que o vetusto bigodudo e o camaleão tem em comum?

Se alguém me perguntasse isso eu responderia o óbvio: nada.

Mas isso foi até a semana passada.

Depois que eu comprei um gravador de DVD de mesa, com HD e funções de edição, passei a ter o costume de gravar alguns programas de videoclipes antigos com o objetivo de alimentar a leve nostalgia que acomete aqueles que se aproximam dos quarenta. E, dia desses, acabei captando uma música do Bowie da qual eu gosto muito, e que tem um dos clipes mais loucos da história da música moderna e pré-histórica: Loving the Alien, do álbum Tonight, de 1984.

Enquanto assistia ao desfile de sandices, me aparece em cena Bowie, como que vestido para um casamento inglês acompanhado de uma mulher trajando algo parecido com uma burka afegã, meio avançadinha, já que mostrava todo o rosto e as mãos (que pouca vergonha!). E, enquanto a música transcorria, a moçoila resolve arrancar notas de dinheiro presas ao vestido e atirá-las no cantor.

Quando de repente, aquilo! Naõ! Seria verdade?! Volta para ver de novo, e mais uma vez e mais uma. De repente, ficou claro. Não havia dúvidas. Tinha um Barão preso no vestido da dona! Eu nunca vi disso in my life!

Como pode uma coisa dessas?

A prova do crime.


Um cara com libra e dólar pra gastar à vontade, se contentando com merrecas, quero dizer, cruzeiros!

Será que as vendagens não estavam assim uma Brastemp, ou era caso de mãodevaquite aguda?

Fico até imaginando o louro entrando num ônibus e já mandando:

- Senhores passageiro, eu podia tá matâno, eu podia tá roubano, eu podia tá fazendo um monte de coisa ruim, mas estou aqui humildemente pedindo um trocado para fazer um videoclipe completamente sem sentido...

Ou mesmo fazendo uma aliança nefasta com Vagner Love e o pessoal da facção IVO (Impenhados na Vitória de Osasco).
Para quem achou essa minha frase mais sem sentido que um clipe do Bowie, e (ainda) não é fã do Champ, recomendo que clique aqui.

Resumindo, isso tudo deve ter algum significado oculto de extrema importância e eu vou descobrir o que é nem que leva minha vida inteira, o que não deve ser muito, já que o mundo vai virar bolor em dezembro de 2012 mesmo.

Se cuida Dan Brown!

P.S.: Como os fellows da gravadora proibiram a disponibilização do link para incorporação do vídeo aqui no blog, quem quiser apreciar a música e tentar entender o clipe, vai ter de clicar aqui.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O Fim do Mundo



Como todos aqueles minimamente informados sabem o FdM (ou, fim do mundo) está, finalmente, e inexoravelmente, próximo. Em 21 de dezembro 2012 pela manhã (se não der praia).

Então resolvi buscar uma explicação nas palavras daquele que nos tem brindado com suas previsões há séculos.

Consta na 11a centúria do profeta Noscagamos que:

No dia em que o trovão espantar do ninho a grande águia
E que seus filhotes famintos atacarem a casa do Papa
Dois irmãos, imponentes em seus tronos, sucumbirão
E as planícies em fogo serão consumidas pelo caos.



Por outro lado:

O tigre, ávido pelo leite da cabra
Tornará o dia em noite, e a tarde naquele período da manhã em que não amanheceu, mas também não está completamente escuro
E os Reis e Rainhas das terras longínquas
Chorarão a perda de seus sapatos de baile.


Enfim:

O fogo e o caos tomarão o reino dos justos
Quando estes estiverem ocupados olhando o leite ferver
E os céus se abrirão
E todas as pessoas, ou coisas, se tornarão mais brilhantes por um momento, enquanto a estrela brilhar sobre a mais alta montanha, e todos aqueles que forem iluminados pela sua luz se regozijarão diante do fim de tudo, ou ao menos de tudo aquilo que conhecem, ou pelo menos daquelas coisas que eles conseguem ver pela janela no finzinho da tarde quando já terminaram seus afazeres domésticos, mas um pouquinho antes da novela, talvez uns 30 ou 40 minutos antes, e tudo aquilo que for ou tenha sido um dia não mais será aquilo que achamos que eram na época que eles eram de fato alguma coisa, e nesse momento saberão o significado de tudo, tudo mesmo, não só aquelas coisas que viram da janela, como já foi explicado anteriormente.
(*)

(*) Este verso é, definitivamente, o segundo maior escrito pelo profeta, segundo o historiador Pierre Sanfona.

Como vocês podem ver, está tudo muito claro nos textos de Noscagamos. Só não vê quem não quer.

O problema é que, devido ao fato de suas profecias só serem associadas aos fatos depois dos mesmos já terem acontecido, teremos um problema, já que, após o FdM não deverá haver ninguém para confirmá-las.

Talvez as baratas, mas ouvi falar que elas não gostam de versos.

P.S.: Na verdade, tive estes delírios enquanto escrevia um comentário para este texto do Championship Vinyl aqui. Aí resolvi que estava bom para publicar, considerando que, diante do marasmo que reina neste blog, talvez meu conceito de "bom" tenha sofrido uma queda considerável.

domingo, 11 de outubro de 2009

1001 Covers

Há quem goste deles, outros que os considerem um desrespeito.

Há os reverentes e obedientes, enquanto outros são subversivos, ou até mesmo debochados.

Quando se fala de covers (releituras de sucessos musicais), as opiniões podem divergir, mesmo entre os admiradores desta arte.

Afinal de contas, é heresia gostar mais de um cover dos Beatles do que da versão original? Particularmente, a minha resposta é não. Embora seja admirador de carteirinha dos Fab4, não tenho este tipo de pudores e preconceitos (inclusive tenho uns bons exemplos de covers deles que considero melhores que os originais). Mas pode ser que você esteja aí espumando de raiva e pensando em lançar uma fatwa contra mim, por abrir essa minha boca suja para falar uma besteira dessas.

É a esse tipo de reação que estou me referindo.

Enfim, o motivo da ladainha é que fui mui gentilmente convidado pelos amigos blogosféricos do 1001 Covers para contribuir com sua nobre missão de chegar ao número de 1001 (nossa, quem diria?!) indicações de versões musicais dignas de nota, tornando-se um reposítório deste tipo de informação na rede.

Pode ser até que você ache a idéia uma baita besteira, mas eu achei muito legal e aconselho a todas as três ou quatro pessoas que passam por aqui de vez em quando a nos fazer uma visita lá.

Quem sabe até você goste?

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Groucho Marx e os Tribalistas

Não é de hoje que eu tenho implicância com o conceito de tribos. Nada contra os brasileiros nativos (de pés descalços ou de havaianas). O alvo de minha implicância são as famosas tribos urbanas.

Esse conceito de ajuntamento de pessoas com mesmos objetivos e crenças que, teoricamente, não tem nada de mais e, pelo contrário, está na base da criação das sociedades civilizadas. Mas a coisa começa a desandar quando o conceito de tribo esbarra na tal da rebeldia.

É super radical ser punk, ou metaleiro, ou skatista, ou qualquer outro grupo de pessoas que nadam contra corrente e são contra-tudo-isso-que-está-aí.

Só que, da forma como enxergo, esses grupos acabam sendo ultra-reacionários e conservadores. Na verdade, mais conservadores do que o pessoal da TFP.

Por exemplo: digamos que você tenha um emprego bem convencional, daqueles que te obriga a ir arrumadinho para o trabalho e coisa e tal. Digamos que você trabalhe em um banco. Só que, por trás dessa carcaça mauricinha, você é um grande fã de metal. Daqueles que conhecem profundamente desde os medalhões do estilo, até aquela bandinha croata de Power-death-thrash-metal.

Então você decide, todo animado, a ir a um show do Pantera. Só que você teve de trabalhar até tarde e vai direto para o show sem ter tempo de ir em casa colocar sua fantasia de metaleiro. Calça social, camisa para dentro da calça, cabelo cortado, sabe o tipo? Então...

Bom, no meu mundo ideal, um metaleiro de raiz ia ver esse cara durante o show e dizer:

- Pô cara! Se eu cruzasse com você na rua, nunca ia adivinhar ia te encontrar aqui. Legal você curtir esse som também!

Mas, enquanto isso no mundo real:

- Que qui tu ta fazendo aqui, mauricinho?! Que qui tu entende disso?! Vai pra casa escutar pop seu playboyzinho de merda! Sai daqui antes que a gente quebre os seus dentes.

Bom, ele pode até não falar isso, mas vai pensar. A não ser, talvez, aquela parte dos dentes quebrados (pode ser que ele seja mais do tipo que quebra pernas, vai saber...).

Donde se conclui que até para ser rebelde você tem de seguir o manual.

Ou seja, se você quiser ser aceito como metaleiro, você tem de se vestir de preto, ter cabelo comprido (preferencialmente barba também), tatuagem, se comportar da forma X, falar da forma Y e andar do jeito Z (substitua “metaleiro”por qualquer outra tribo “rebelde” e continua sendo verdade). Ou, no mínimo obedecer a um número mínimo de regras deste conjunto (esse número mínimo deve ser estabelecido por algum órgão do tipo Sindimetal, ou Ordem dos Headbangers do Brasil).

Porra! Tem mais regras do que para se filiar ao Iate Clube.

Que rebeldia é essa que te entrega, ainda na entrada do círculo tribal, um manualzinho com dezenas de regras que você tem de obedecer à risca, sob pena de ser expulso da tribo com desonra e sob apedrejamento (Connor McLeod mode: on).

Rebeldia pode até ser ir de coturno e calça rasgada ao Teatro Municipal, mas também é (talvez muito mais) ir de smoking ao show de punk rock. Rebeldia é fazer as coisas como e quando quiser, e não seguir um monte de regras babacas.

Ahn? O que Groucho Marx tem com essa história?!

Boa Pergunta.

É que, em relação a este assunto, eu sigo a máxima marxista (do Groucho claro, não daquele outro barbudo carrancudo) de que eu nunca entraria para um clube que me aceitasse como sócio.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Cast away

No meio do nada, ondas de quase 3 metros, turno da madrugada, previsão de piora para os próximos dias e uma longa semana pela frente.

Pelo menos posso escrever aqui para espantar o tédio, o que seria bem melhor se eu estivesse inpirado para escrever algo que tornasse a vida de alguém melhor. Ao menos a minha...

Será que minha mensagem na garrafa vai alcançar alguém?

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Grace

Jeff Buckley teve uma morte prematura: enquanto aguardava a chegada de sua banda em Memphis, para a gravação do que seria seu segundo álbum, afogou-se ao nadar em um rio em 1997, aos 30 anos de idade.

Mas sua primeira obra, Grace, foi suficiente para deixar uma marca na história da música popular do século XX. Tido como uma das grandes promessas daquele fim de século, infelizmente a morte o impediu de deixar outras provas de seu talento.

Deixo aqui um vídeo (na verdade, uma colagem de fotos) da faixa título de seu único álbum lançado em vida. Considero uma música belíssima. Muito intensa, com uma de letra que, irônicamente, fala sobre o momento da morte.



"Grace" (Jeff Buckley)

there's the moon asking to stay
long enough for the clouds to fly me away
well it's my time coming, i'm not afraid to die
my fading voice sings of love,
but she cries to the clicking of time
oh, time

wait in the fire...

and she weeps on my arm
walking to the bright lights in sorrow
oh drink a bit of wine we both might go tomorrow
oh my love

and the rain is falling and i believe
my time has come
it reminds me of the pain
i might leave
leave behind

wait in the fire...

and i feel them drown my name
so easy to know and forget with this kiss
i'm not afraid to go but it goes so slow

E, aproveitando a onda, outra de minhas preferidas: Mojo Pin, em versão ao vivo.



"Mojo pin" (Jeff Buckley)

I'm lying in my bed
The blanket is warm
This body will never be
Safe from harm
Still feel your hair
Black ribbons of coal
Touch my skin
To keep me whole....

Oh...if only you'd come back to me..
If you laid at my side...
Wouldn't need no Mojo Pin
To keep me satisfied...

Don't wanna weep for you
Don't wanna know
I'm blind and tortured
The white horses flow (horse has flown)
Memories fire
The rhythms fall slow
Black beauty I love you so....

Uh precious precious silver and gold
And pearls in oyster's flesh
Drop down we two to serve and pray to love
Born again from the rhythm
Screaming down from heaven
Ageless, ageless and I'm there in your arms......

Don't wanna weep for you
I don't wanna know
I'm blind and tortured
The white horses flow
The memories fire
The rhythms fall slow..
Black beauty I love you so....so..so..so...

Dah........

Oh the welts of your scorn, my love
Give me more
Send whips of opinion down my back
Give me more
Well it's you I've waited my life to see
It's you I've searched so hard for....

Don't wanna weep for you
Don't wanna know
I'm blind and tortured
The white horses flow (horse has flown)
The memories fire
The rhythms fall slow..
Black beauty I love you so.....so...black black black beauty.....

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Khallice


Na semana passada, passei uns dois dias em Brasília.

Mas como não me deixaram passar minha bazuca e meu lançador de morteiros no aerporto, tive de me contentar em visitar uns amigos, entre eles nossa Barbarella, muito simpática e hospitaleira. Mas o prato principal acabou sendo uma road trip com meus amigos da banda Khallice ("Quase Famosos" mode: on).

O Khallice para quem não sabe, e a maioria de vocês, infelizmente, não devem saber, é um dos maiores nomes (talvez o maior) do chamado prog metal nacional, tendo sido escolhido pelo próprio Dream Theater, maior nome mundial do gênero, para abrir seu show no Rio de Janeiro, em 2008. Além de também terem aberto shows para a americana Simphony X, e a sueca Evergrey, outros grandes representantes do gênero. Seu primeiro álbum, "The Journey", foi relançado no mercado mundial pela Magna Carta, e o segundo "Inside your Head", está para sair.

Os dois shows, em Brasília e Goiânia, tinham o objetivo específico de homenagear o Dream Theater, tocando na íntegra seu álbum mais emblemático, "Images and Words", além de algumas músicas próprias do Khallice, que tem ótima recepção do público.

Qualquer um que já escutou alguma coisa do DT sabe que sua música é altamente cerebral envolve altíssima complexidade técnica e entrosamento do grupo, com mudanças bruscas e constantes de andamento e dobras entre guitarra e teclado em alta velocidade. Ou seja, não é para qualquer um e, ouso dizer, que poucas bandas no mundo são capazes de reproduzir seu repertório mantendo a qualidade original.

Eu diria que tocar esse álbum integralmente seria o equivalente musical a disputar uma maratona. Com a diferença de que durante a maratona pelo menos ainda há aquelas pessoas, ao lado do trajeto, para te passarem um copo d'água.

Enfim, sem querer aumentar a rasgação de seda, reafirmo que tocar (e compôr) esse tipo de música é, para mim, uma daquelas coisas que estão no limite do sobre-humano. E por isso acho que esses caras, amizades à parte, merecem muito reconhecimento.

Marcelo Barbosa, um dos fundadores da banda já tem uma carreira de destaque na cena da guitarra nacional, e o próprio Khallice tem uma boa reputação nesse segmento que representam ao longo destes 10 anos de trabalho, mas o fato é que são todos uns monstros (no melhor sentido) e merecem muito mais. Merecem o mundo.

Para quem se interessar, aí vão alguns links:

www.khallice.com.br
www.myspace.com/khallice
www.marcelobarbosa.com.br

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Em tempo...


Quem me conhece, ou já leu o que eu penso sobre nostalgia, já sabe que eu me considero um nostálgico esclarecido, então não preciso mais me explicar sobre isso.

Mas ultimamente, e cada vez mais, tenho me pego revoltado com essa ditadura do tempo. Nada relacionado ao medo de notar que cada dia que passa é um a menos para nossa morte, já que (pelo menos por enquanto), não costumo gastar energia pensando nisso.

O que me tem deixado revoltado são os privilégios do espaço sobre o tempo. Parece que, parafraseando Orwell, aparentemente todas as dimensões são iguais, mas algumas são mais iguais do que outras.

É melhor eu começar a me explicar antes de vocês acharem que estou louco, bêbado, ou qualquer mistura dos dois.

Todo mundo já foi a um lugar do qual gostou muito, certo? Qual a solução, então, se você sentir saudade ou uma grande vontade de estar novamente nesse lugar?? Você simplesmente vai até lá! E pronto... resolvida a situação.

E se a vontade for relacionada a uma época, e não a um lugar? E, então? A não ser que você tenha um certo DeLorean na sua garagem, vai ter de se contentar com suas lembranças.

Por que esse preconceito?! Por que quando a coisa muda de ONDE para QUANDO, não há solução razoável. Essa situação tem me deixado louco (acho que o fato de estar lendo, no momento, a “trilogia de quatro livros” do Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams, não tem ajudado muito*).

Cheguei em um ponto que o efeito “máquina do tempo” alimentado à base de lembranças, não parece estar sendo suficiente. Então fico sonhando com outras soluções...

Acho que uma máquina do tempo clássica, que transportasse seu corpo para a época e blá-blá-blá (vocês conhecem o tipo), nem seria o ideal. Talvez o melhor fosse transportar sua consciência para seu corpo na época, ou até mesmo (vejam como sou um cara razoável), transportá-la só como observadora. Algo como um aluno ouvinte do curso do tempo.

Se bem que essa última opção pudesse ser um pouco desagradável, já que nos obrigaria a assistir, completamente impotentes, a situações potencialmente constrangedoras. Imaginem só a cena: Aquela festinha, aquela gatinha, tudo, aparentemente, no lugar e hora certos...

“Isso, garoto! Pega a mão dela. Isso... Até aí tudo bem, ela ainda não percebeu o quanto você está bêbado (e ela também). Agora, isso... aproveita! Beija a menina! Agora! Tenha a coragem que eu não tive. Efeito borboleta é o catzo! Peraí que cara é essa?! Não vomita em cima dela não! Não, de novo n... Sai daí, sai daí, sa... ”

Ai, ai... Eu me mato de vergonha.

Bom, mas na maior parte das vezes ia ser legal...

Provavelmente...

Talvez...

O fato é que esses pensamentos têm me acometido com certa freqüência, então resolvi passar para frente a idéia de fazer uma pressão popular para exigir a revogação da inefabilidade do tempo. Quem sabe uma campanha do tipo “Abaixo o relógio – por um tempo plano”, ou então “A consciência é minha e eu largo ela onde (ou quando) eu quiser”, sei lá...

Enfim, não sei se “no meu tempo que era bom”, mas que eu queria dar uma olhadinha lá, eu queria...

E como diria aquele grande profeta, Pierre de La Boulangerie:

“O sonho não acabou, já vão repor, mas separa um aí para mim enquanto estou na fila do pão.”


* Comprei o "Guia do Mochileiro das Galáxias" outro dia, para ter o que ler no avião e, antes de chegar na vigésima página, já me perguntava sobre como eu pude viver até aqui sem ler esse livro. Cheguei em casa e encomendei todos os outros livros do autor. A forma como é escrito e o humor surreal são simplesmente irresistíveis. Recomendo a qualquer forma de vida baseada em carbono do Universo.


Atualização
P.S. : Respondendo a inúmeras perguntas, que eu mesmo me fiz, sobre o evento passado aqui descrito, esclareço que é completamente fictício. Pelo menos a parte do vômito (o resto é provável...).

sábado, 15 de agosto de 2009

Ritmo pouco é bobagem

Aqui vai um vídeo que conseguiu me deixar de boca aberta.

Um medley absolutamente estonteante de Il Barbieri di Siviglia (O Barbeiro de Sevilha), de Rossini, pelo baterista Andrea Vadrucci.

De cair o queixo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Embromation 101

Bom dia classe, hoje iniciaremos o nosso curso, que vai abordar o arsenal disponível de técnicas que permitirão a vocês impressionarem multidões, sem precisarem de grandes doses de conteúdo.

Para falar a verdade, são exigidas doses mínimas de conteúdo o que leva tais técnicas a serem utilizadas por representantes dos mais diversos níveis dos poderes Legislativo, Executivo e, por que não, do Judiciário.

Artifícios como a famosa Técnica Paraguaçu, que tem sido usada pode embromar multidões há décadas, com a utilização de termos pseudo-eruditos e/ou inventados, mas isso é assunto para uma aula mais avançada.

Como exercício hoje abordaremos a técnica escrita da meta-enrolação, que consiste na utilização de nenhum conteúdo (que não a própria enrolação), porém abrangendo-se o máximo de espaço e tempo possível. Mas o que é afinal a meta-enrolação???

Parênteses:(o uso de perguntas retóricas desnecessárias é extremamente útil na lida do preenchimento máximo de espaço. E nunca subestimem o uso de mais de um ponto de interrogação ao seu final, o que pode fazer uma grande diferença, em termos de espaço, a considerar o número de perguntas retóricas desnecessárias)

Parênteses dentro dos parênteses:((a repetição de expressões longas como o "número de perguntas retóricas desnecessárias" acima também pode ser de extrema valia.))

Parênteses adicionais:(o uso de explicações em parênteses também pode ser útil para cumprimento do objetivo em epígrafe. Assim como o uso de palavras como "epígrafe", o que pode ser considerado uma contribuição da Técnica Paraguaçu ao campo da meta-enrolação)

E, por último, meta-parênteses:(Depois da última reforma ortográfica, a palavra parênteses ainda tem é acentuada? Pesquisem para a próxima aula)

OBS. (que é completamente diferente de "parênteses"): Nesse ponto você já esqueceu completamente sobre o que falávamos, então vamos recapitular: estamos fazendo um exercício de meta-enrolação. Fim da OBS.

Mas, como se dizia, a meta-enrolação consiste em usar a própria enrolação, como estabelecida anteriormente, para explicar o processo de enrolação - "embromars gratia embromatis", como se diz e latim - método extremamente útil no “desenrolar” do texto (ah! Desenrolar... entenderam? Hein?! Eh... Bom, deixem para lá).

Continuando...Enfim, basicamente a técnica consiste nisso e eu espero, para a próxima semana que cada um me entregue um mínimo de 50 páginas de meta-enrolação. E, respondendo antecipadamente às perguntas mais frequentes:

- SIM, a criatividade na abordagem valerá pontos extras;

- SIM, eu vou ler os textos todos (ou não, vocês nunca vão saber), então não adianta encher o miolo dos trabalhos com textos aleatórios (ou adianta, quem sabe...); e

- E, principalmente: NÃO, espaçamento triplo não será considerado como enrolação, dessa forma vocês estariam enganando a si próprios (quando definitivamente, o objetivo é enganar o público). Afinal de contas que tipo de embromadores vocês querem se tornar? (pergunta retórica, não precisam responder). Nós temos padrões por aqui e nos orgulhamos de nossa reputação.

P.S. 1: Esta semana começará a funcionar nosso banco de currículos, no qual seus predicados poderão ser avaliados para serem aproveitados nas Câmaras Municipais, e até mesmo no Senado Federal. O seu céu é o limite.

P.S. 2: Não percam, na próxima semana, a palestra de um de nossos mais brilhantes ex-alunos, o Senador Silveirinha, que abordará o tema “Opinião Pública: por que me importar, se posso enrolar?”.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Tem coisas que o dinheiro não compra...

Definitivamente, um dos prós da paternidade.

Café da manhã na cama

terça-feira, 21 de julho de 2009

Chiclete-se

Dica rápida:

Estes dias mesmo estava a comentar com um amigo sobre uma história do Angeli, publicada na revista Chiclete com Banana, que eu não via há tempos e sobre a qual não conseguia encontrar referências nem na Internet.

Me lamentava porque minha coleção estava dispersa entre a casa de minha mãe, a de meu irmão mais novo, e sabe-se lá mais por onde.

Coincidência das coincidências, no mesmo dia passei em uma banca de jornal e descobri que a Chiclete está sendo reeditada em duas caixas com oito edições cada. Aconselho aos saudosos.

Comprei feliz e pude reler a tal história, o clássico "Triste fim do peru do Policarpo".

A felicidade pode realmente estar nas pequenas coisas.

V.A. (Vinilólatras Anônimos)

- Meu nome é R.V. e eu tenho um problema.

- Oi R.V.! (todos)

- Eu... eu... eu escuto LPs... e tenho uma máquina de lavar discos...

(clap, clap, clap!)



É isso mesmo. Você conhece alguém que tenham uma, ou mesmo já ouviu falar de sua existência? Não?

Pois eu tenho e recomendo fortemente a qualquer um que queira voltar a escutar seus bolachões.

É uma coisa impressionante como um disco cheio de sujeira, marcas de dedos, gordura e mofo pode ficar como novo com uma belezinha dessas.

Para seu conhecimento sempre se lavou LPs, pois essa é a única forma de se eliminar os vestígios que já citei de sua superfície. Mas esta lavagem envolvia colocar o disco sob a torneira, limpá-los manualmente um a um e, terror dos terrores, deixá-los secar completamente de forma individual encostados em uma parede qualquer.

Em uma máquina deste tipo usamos uma mistura variável de água destilada (para não deixar sais nos sulcos), detergente de alta performance e álcool isopropílico para a limpeza, e o resíduo resultante é todo sugado de forma a que, ao final, o disco esteja limpo e perfeitamente seco. Pronto para ir para a capa ou toca-discos.

Aparelhos desse tipo costumam ser caríssimos e, sem exceção, importados. Era o que eu achava até saber que um camarada em SP estava produzindo uma solução “de fundo de quintal”, porém de grande qualidade e resultado final, e custando uma pequena fração dos similares importados (aviso: apesar do tom polishopístico do post, não estou ganhando nada com esta propaganda).





Ói só que xuxuzinho...


É lógico que aquele disco que foi usado para limpar o chão e que parece ter passado pelo trato digestivo de um ruminante, ou aquele que servia de capa de chuva para seu porco-espinho de estimação, não vai voltar a ser novo. Mas o fato é que funciona para quase tudo, menos para arranhões profundos.

E se você pedir a sua nos próximos dez minutos ganhará esta incrível coletânea onde Nelson Ned interpreta os grandes sucessos do grupo Menudo! Não perca essa oportunidade única!

Atencão. O ministério da saúde adverte:

"Ouvir Nelson Ned misturado a Menudo, em quaisquer proporções, pode ser extremamente prejudicial à sua sáude.

Ou não..."

Ele voltou. O boêmio voltou novamente...

Pegando carona no assunto do último post, resolvi comentar sobre a volta do vinil, mania que eu mesmo voltei a cultivar há algum tempo.

Eu voltei a dar a merecida atenção à minha coleção de LPs que, na verdade, hoje nem é tão somente minha assim, já que coletei material de diversas pessoas que queriam se livrar daquelas "velharias" após o declínio do bom e velho (para alguns, mais velho do que bom) vinil.

E tem sido muito bom para mim.

O vinil tem vantagens (e, obviamente, desvantagens) em relação a seus sucessores que podem ser mais, ou menos, relevantes de acordo com o equipamento e o ouvido de cada um.

Porém, meu objetivo, neste momento, não é abordar questões técnicas, mas simplesmente falar de aspectos sentimentais.

Muito se fala sobre como uma música pode ter o efeito de trazer à mente outras épocas e sentimentos, mas sentar hoje em frente a um toca-discos e colocar para tocar um LP que tenha tido alguma importância em sua juventude é, desculpem o clichê, uma máquina do tempo.

Olhar aquela bolacha preta rodar enquanto inspeciona-se a capa e o encarte, é capaz de confundir seus sentidos de tal forma que você passa até a sentir cheiros e às vezes traz sensações tão fortes, que parecem acontecer naquele momento.

A questão é que quando era apenas um adolescente tarado por música (antes de virar um adulto tarado por música), não tinha verba para comprar todos os discos que me interessavam, então a prática acabava sendo não comprar aqueles que os amigos já tinham, e que podíamos gravar (a não ser naqueles casos de títulos que tínhamos de ter de qualquer forma). Dessa forma, aplicávamos nossa suada mesada, de forma geral, nos discos que não tínhamos para gravar.

O lado ruim desta técnica é que minha discografia acabou com buracos, não ostentando títulos que considero indispensáveis, seja por sua indiscutível (para meus critérios) qualidade, seja por aspectos sentimentais. Ou pela mistura de ambos em quaisquer quantidades.

Sendo assim, venho tentando corrigir essas falhas procurando os amigos que ainda não se livraram dos seus estoques, com promessas de uma aposentadoria digna para suas bolachas, e até mesmo comprando discos usados. Também passei a comprar na Amazon alguns títulos essenciais em versões remasterizadas em vinil de 180g.

E fazendo isso, notei um interessante efeito colateral associado ao fato de lidar com discos que não foram originalmente meus, embora eu tenha convivido com aquela música na época, no rádio ou em minhas fitas gravadas.

O fato é que estes discos não têm uma história comigo. Eu não me lembro de quando os comprei (uma etiqueta de lojas que não existem mais, com preços em Cr$, tem efeitos muito interessantes). Também não passei horas das minhas tardes ociosas os escutando até meu irmão ameaçar lançá-lo pela janela. Então, em certa escala, eu não os sinto como completamente meus.

A situação é mais bizarra no caso daqueles com etiquetas de lojas que eu nunca visitei, algumas até em outros estados ou, principalmente, quando há escritos nomes dos antigos donos ou dedicatórias (coisa que eu sempre deplorei, essa de escrever nas capas). Nesse último caso chego a me pegar sentindo ciúmes, como se fosse uma namorada que faz questão de passar o dia falando dos bons momentos com seu ex.

É eu sei. Coisa de maluco mesmo.

Mas para alguns o maior exemplo de minha L.R.V. (loucura relacionada ao vinil) foi a compra de uma máquina de lavar LPs. Mas isso fica para um próximo post.

Para começar a deixar clara a intensidade de meu problema, aqui vão algumas imagens. Aquelas que, dizem, valem mais do que mil palavras (clique nas imagens para abri-las com seu tamanho original):



LPs na parede e na prateleira (não couberam todos, mas já é um começo).


Meus CDs (estão quase todos aí).


Um dos meus armários de DVDs (esse, praticamente só de música).

No meu tempo é que era bom!

Quantas vezes você já escutou isso??

O mais interessante é que você escuta isso de gente dos 20 (às vezes mais novos) aos 120 anos.

Então, peráiumpouquinho. Alguém deve estar errado nessa história, já que o tempo de cada um está bastante deslocado.

Ou não.

Vai ver estão todos certos.

Nostalgia, saudades dos bons tempos, ou qualquer que seja o nome que damos pode ser bastante saudável, quando na dosagem correta.

O problema começa quando a pessoa tem uma dificuldade insuperável em separar sentimentos das boas qualidades intrínsecas a determinado objeto de interesse.

O nostálgico saudável olha com carinho para as coisas que lembram bons tempos da sua vida sabendo, porém, que às vezes a maior qualidade daquilo é somente transportá-lo para outro tempo. Um tempo reconfortante que poderia incluir, por exemplo, chegar do colégio e ficar a tarde toda de bobeira e sem maiores preocupações. Tocar guitarra, escutar música, ir tomar um Milk-shake de ovomaltine com os amigos ou, mesmo, deitar no sofá para assistir à Sessão da Tarde.

Mas, ao mesmo tempo, este personagem reconhece que a qualidade que ele via naquele filme, desenho, música, livro, etc., pode não ser assim uma Brastemp. Ou até, indo no popular, era uma merda mesmo.

Mas traz boas lembranças, e isso é o que importa.

A pessoa que sofre de nostalgia “maligna” perde-se em algum ponto deste passado onírico e, colocando um biombo diante dos olhos, tem uma dificuldade fisiológica em enxergar qualidade em qualquer manifestação que não seja associada àquela época. Vamos resumir: para ele, tudo que é feito hoje é um lixo.

Ao mesmo tempo, nosso “nostálgico maligno” parece sofrer de uma patologia que o leva a achar que tudo que é relacionado àquele seu “tempo melhor”, normalmente sua infância e adolescência, traz consigo uma qualidade indiscutível. Não importa o quão ridículos sejam seus argumentos para defender sua posição.

O processo que ele usa em sua argumentação, via de regra, é citar somente as coisas boas da infância, varrendo para baixo do tapete todo o lixo da época, fazendo o oposto com as coisas atuais.

E não se enganem. Existem muitos destes por aí. Talvez até você seja um deles...

Vocês podem identificá-los por seu chavão característico: "no meu tempo que era bom!" (e sua variação “ah! Meus tempos!). Normalmente repetido incansavelmente e sem direito a réplica.

Eu prefiro me considerar um nostálgico benigno.

Continuo gostando de diversos filmes, desenhos e músicas do "meu tempo", mesmo que hoje não os considere tecnicamente bons.

Dia desses da vida comprei uma pilha de DVDs da minha altura com filmes da década de 80. Analisando friamente, metade deles são uns filminhos cheios de clichês que não valem muita coisa. Mas o que me interessa são as boas sensações que eles me trazem.

Um ponto relevante a se observar nessa discussão é que o ser humano tende a se comprazer em passar a imagem de que tem mais bagagem do que o próximo, mesmo que a diferença de idade seja mínima.

Sempre pensam que as crianças de hoje não sabem o que é diversão (já escutei um camarada de 17 anos com esse discurso). Mas se refletirem por um minuto, vão observar que seus pais pensam a mesma coisa deles e que seus avós pensam a mesma coisa em relação a seus pais.

E voltamos à questão inicial: estariam todos errados (ou todos certos)?

Vamos analisar um exemplo e, recomendo, que se você reconhece em si tendências de nostalgia maligna, pare de ler por aqui (sob pena de começar a espumar de raiva).

Analisemos os desenhos animados. Por mais que eu ainda me divirta assistindo a Pica-pau, Turma do Pernalonga, e similares, é muito claro para mim que os desenhos animados de hoje, na média, são extremamente superiores aos que assistia quando criança (para registro, nasci em 1972).

Antes que o choro e ranger de dentes comecem, e seja lançada uma fatwa contra mim, vamos continuar.

Os nostálgicos de plantão vociferam sobre a violência e falta de valores positivos dos desenhos atuais, em relação aos antigos. Existe uma dificuldade de entender que em todas as épocas existem desenhos (música/livros/filmes) ótimos e outros péssimos. Hoje a situação é a mesma, com alguns desenhos horrorosos e violentos, mas alguns tão bons que não encontram similar entre os das décadas passadas.

Continuemos com o exemplo do Pica-pau. Aquele camaradinha de cabeça vermelha e muito gosto por sacanear o próximo. Embora eu me divirta até hoje com isso, o fato é que 100% dos seus desenhos se resumem ao mesmo argumento e, com pouquíssimas variações, até ao mesmo roteiro. Vamos lá: alguém corre atrás do Pica-pau e ele passa até o final fugindo e dando uma sacaneada no perseguidor. E só.

Divertido, sem dúvida. Mas não há como negar que a história é só isso.

Agora peguemos um desenho que eu considero um dos melhores de todos os tempos: Bob Esponja. A originalidade do argumento já é inegável e os roteiros são variados e sensacionais. Quem tem filhos vai reconhecer outros, como Os Padrinhos Mágicos.

Para falar a verdade se pusermos em análise somente Bob Esponja e os Padrinhos, acho que podem juntar no outro lado da balança todos os desenhos da minha infância que não há competição.

Isso sem falar naqueles desenhos ou filmes dos quais você guarda boas lembranças, mas se for assistir hoje, vai sair completamente decepcionado. Às vezes as lembranças são muito melhores do que a realidade.

As pessoas que agem, impensadamente, desta forma correm o risco de passar por situações absolutamente ridículas. Uma vez eu escutei a seguinte pérola:

- Esses seriados japoneses de hoje são horríveis! Bom era o National Kid!

Para tudo! Para tudo!! Para tudo!!!

Alguém aí já viu National Kid? Ou Ultraseven? Ou Ultraman? Ou Spectreman? Se há uma coisa que sempre se manteve no mesmo nível (ruim de doer, diga-se) são esses seriados japoneses. Então o que leva uma pessoa aparentemente razoável e de bom nível intelectual a dizer uma bobagem dessas?

É o melhor! É o melhor! ...

A resposta é: paixão.

E nada contra nos apegarmos a coisas que nos trazem boas lembranças e nos fazem sentir bem. Desde que reconheçamos os motivos que regem esta paixão e que os tratemos como eles merecem: uma questão sentimentos e, não necessariamente de qualidade técnica.

Enfim, olhar com carinho para o passado não tem nada demais, e é até saudável, porém se você quer colocar uma venda nos olhos para impedi-lo de enxergar um monte de coisas legais que estão por aí, tudo bem também.

Mas o prejuízo é todo seu.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Inércia

FATO 1:


Eu não uso relógio. 

Não mais. 

Um dia acabou a bateria e eu peguei outro na gaveta. 

Aí a pulseira deste arrebentou e a gaveta estava vazia. 


Isso foi há mais de dez anos e eu nunca mais usei um relógio.


FATO 2

Meus óculos perderam um parafuso. Precisava levá-los á uma ótica para conserto. 

Isso foi há cerca de três meses. 

Há cerca de três meses não uso óculos.




Sei não. 

Acho que há um padrão nisso aí...

terça-feira, 14 de julho de 2009

Post meio vazio

Não sei...

Acho que estou meio pessimista hoje.

Quando cedi aos incentivos para seguir o caminho do blogueiro, eu sabia que não seria tão simples como: ah, quando me der alguma coisa na cabeça, eu vou lá e escrevo!

Eu sabia que iria me sentir pressionado a produzir. Não para agradar aos fãs, já que não os tenho como alguns de nossos pares, mas porque sabia que as pessoas iriam esperar isso de mim. Esse foi, inclusive, um dos motivos pelo qual não aderi ao Orkut: sabia que ia acabar deixando aquilo para lá, sem atualizações.

Mas aí estamos.

Quando disse , no começo - como se já houvesse tanto tempo assim para poder ter um começo, que não sabia que rumo as coisas iriam tomar, qual seria a cara deste blog, eu falava sério.

Se penso em historinhas cotidianas, imagino se conseguiria descrevê-las sem me tornar um pastiche do Champ. E, cá entre nós, quem iria querer andar na minha bicicleta se podem ir de limousine?

Quanto à ficção, apesar da intimidade com o ferramental, careço da centelha criativa de um Tyler, por exemplo.

Tenho alguns arremedos de idéias em relação a música, mas preferia que esse não fosse o único assunto a ser abordado aqui.

Se que estou me repetindo mas, choradeiras à parte, temo pelo futuro do bigodudo aí de cima, apesar de ter me sentido bem ao criar este espaço, e do incentivo de, ao menos, alguns dos meus incentivadores iniciais.

Achei que ao final, este post poderia terminar meio cheio.

Mas, sei não.

Ando meio pessimista...

Eu, neste momento.

domingo, 12 de julho de 2009

Operação Sorriso

A Operação Sorriso é um programa médico-humanitário internacional desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Ministério Público do Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial, Hospital Clementino Fraga Filho (UFRJ), Projeto Fendas (HUCFF-UFRJ) e Operation Smile International.

Ela oferece cirurgias gratuitas a crianças que sofrem de lábio leporino e fenda palatina.

A triagem dos pacientes vai se dar nos dias 6 e 7 de agosto, a partir das 8 horas, no Hospital do Fundão, UFRJ, Ilha do Governador. As cirurgias serão realizadas entre os dias 10 e 14/ago, e são oferecidos alojamento e transporte até o hospital para famílias que não puderem arcar com despesas de hospedagem.

Não custa passar a notícia à frente e, podem ter certeza, de que se eu estou repassando é porque já conferi que a coisa é mais do que garantida.

Maiores informações pelos telefones na figura abaixo, ou aqui.

Monologando e andando (ou "Por que eu não consigo arrumar uma idéia decente?")

- E aí Mad Dog, o que está achando dessa nova realidade. Blog, e coisa e tal?

- ...

- Que isso? Fala aí o motivo dessa cara de mal!

- ...

- Acho que você tá achando que manda nessa parada mas, novidade, quem manda aqui sou eu.

- ...

- E não adianta ficar me olhando desse jeito, ô bigode!

- ...

- ...

- Merda, como é que o Rob consegue isso?!

O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE, TENTAR IMPROVISAR, NA FALTA DE BOAS IDÉIAS, PODE CAUSAR HUMILHAÇÃO PÚBLICA, SEGUIDA DE COMENTÁRIOS DESFAVORÁVEIS.

MJ2

Sem querer botar mais lenha no circo que se tornou a morte de Michael Jackson, vamos nos ater à música.

Taí um belo número musical tirado daquela palhaçada, desculpem, do memorial, Joham Mayer, com Human Nature, do álbum Thriller:

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Don't Stop 'Til You Get Enough

Desde a morte de Michael Jackson pensei diversas vezes em escrever algumas palavras, mas acabava desistindo seja porque já li diversas coisas que expressam o meu pensamento sobre o assunto (e não queria ficar chovendo no molhado) ou porque já estivesse meio de saco cheio dessa coisa mórbida do culto ao defunto famoso.

Então vou resumir minha opinião dizendo que sempre o considerei um grande artista e considero os álbuns "Off the wall" e "Thriller" pérolas, para ficar só nestes dois. Mas em algum momento o menino prodígio acabou pegando uma curva errada, e sempre senti muita pena do que o mundo, com a ajuda dele próprio, fez da sua vida. Em verdade tenho dúvidas se o que ele teve pode ser genuinamente chamado de uma vida.

Enfim, resolvi abrir mão do meu silêncio para mostrar este vídeo, gravado na semana passada durante o Meinl Guitar Festival, no qual os mestres Vai e Timmons prestam homenagem a Jackson executando uma versão instrumental de um de seus maiores clássicos, "Beat it", que contava, em sua gravação original, com as guitarras de Steve Lukater e Ed Van Halen (no solo).

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Paradinha

A primeira vez que ouvi “22: The death of all romance”, da banda canadense The Dears, foi também a primeira vez que assisti a seu vídeo clip, então fica difícil para mim separar as duas coisas. Mas uma coisa é certa: foi paixão à primeira vista. Além de achar a música maravilhosa, o clip passou a ser, automaticamente, um de meus preferidos de todos os tempos. O desespero do fim dos tempos e o final intensamente triste, contrastando com a história de amor entre dois ursos de pelúcia produziram, a meu ver, uma obra de arte. Assistam. Vale muito a pena.


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O guitarrista sueco Mattias Eklundh é, guardadas as proporções, herdeiro direto do inconformismo irônico de Frank Zappa. Suas letras afiadas e experimentalismo, empurrando a guitarra a novas fronteiras, são prova disso. Então, para seu deleite (ou não), deixo aqui uma pérola de um de seus projetos, a banda Freak Kitchen. Certamente vai agradar mais aos fãs de guitarras distorcidas, mas, mesmo se não for o seu caso, vale a pena prestar atenção na letra.


Speak when spoken to


There’s something foul with my oral opening
I can not seem to control it, I object to everything
You know, I’m talking all the time

But I’ve got bupkiss to say
The ka-ka my vocal cords produce

Even outdid my ass today

Shut up!
Shut up!
Shut up!

Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to

Pseudo-provocative, I haven’t got a clue
What I’m referring to, I just argue ’til I turn blue
The sound of my own voice gives me

An intellectual high
I get off on my own arrogance

I’m so cynical I could cry

Shut up!
Shut up!
Shut up!

Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to

My mouth’s in good shape
My lips are itching
Spare me some duct tape

Blah, blah, blah, blah, blah
Blah, blah, blah, blah, blah

Shut up!
Shut up!
Shut up!

Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to
Speak when spoken to

______________________________________________________

Eu sempre gostei da banda Level 42 (quem tiver mais de 30 anos, certamente vai saber do que estou falando), mas meu conhecimento não ia muito além dos sucessos radiofônicos na década de 80. Porém, há algum tempo tomei um contato mais profundo com a obra da banda e de seu líder, o baixista e vocalista Mark King. Foi aí que descobri que este camarada é, simplesmente, um dos maiores baixistas que já tive o prazer de escutar. As linhas de baixo complexas que executa enquanto canta, parecendo não fazer o menor esforço, ganharam minha admiração no ato. Desafio qualquer um a assistir a esta interpretação de “Mr Pink” e não terminar completamente chapado.



E, para quem quiser ir além, “Love games”. Não é muito conhecida por aqui, nem tem grandes demonstrações de virtuosismo, mas é uma das minhas preferidas da banda. Um primor...




Será que eu vou virar bolor?*

Um é brasileiro.

Fundador, ao lado do irmão e de uma ruivinha espevitada, de uma banda que revolucionou a música popular de sua época, misturando o, ainda jovem, rock’n’roll a elementos típicos de nossa cultura e, inaugurando em grande estilo a psicodelia tupiniquim. Dono de idéias originais, drogou-se tanto quanto quis (e quis muito). Se atirou do terceiro andar de um hospital psiquiátrico enquanto tentava escapar e, como conseqüência, fraturou o crânio, perdeu massa encefálica e ganhou seqüelas que o acompanhariam a partir daí. Passou a viver em retiro, pintando quadros e gravando de forma bissexta. O que ainda faz até hoje. É considerado um gênio da música de seu tempo.

O outro é inglês.

Fundador de uma das maiores bandas de rock do mundo, que sobreviveu a décadas de mudanças, apresentou ao mundo o chamado rock psicodélico. Drogou-se tanto quanto (ou um pouco mais do que) possível o que, associado a um perfil esquizofrênico, o levou a trancar-se, de forma irreversível, dentro de si mesmo. Gravou algum material após ser expulso da banda que ajudou a formar e da qual era, até então, principal compositor. Ao decidir abandonar completamente a música, passou suas décadas finais morando no sótão da casa materna e pintando. Permaneceu em ostracismo auto-infligido até sua morte, devido a um câncer pancreático, aos 60 anos. Também foi, e ainda é, considerado um gênio musical.

Se é que alguém ainda não notou, estamos falando de Arnaldo Dias Baptista e Roger “Syd” Barrett, fundadores, respectivamente, das bandas Os Mutantes e Pink Floyd, e donos de trajetórias assustadoramente similares.

Por conta do recente lançamento do documentário “Loki”, sobre a carreira de Baptista (ao qual ainda não assisti, mas pretendo), que coincidiu aproximadamente com o término de minha leitura da biografia de Barrett “Crazy Diamond”, uma antiga idéia voltou a martelar em minha cabeça.

O paralelo entre genialidade e loucura.

Loucura, entendo e concordo, é um conceito relativo e extremamente frágil. Se jogar de uma ponte amarrado pelos pés, ou mesmo subir em um veículo muito mais pesado que o ar para voar, pode, dependendo de quem analisa, ser considerado loucura. O conceito de genialidade, embora um pouquinho menos plástico que o de loucura, também não deixa de ser bastante subjetivo podendo se estender, por exemplo, até a pessoas que jogam aleatoriamente tintas em uma tela.

Mas porque todo louco ou, sendo politicamente correto, ser desprovido de razão de acordo com os preceitos aceitos socialmente (ou S.D.D.R.D.A.C.O.P.A.S), parece ganhar o epíteto de gênio com mais facilidade que o resto.

Tenho uma certa dificuldade em aceitar isso.

Admiro muito os dois artistas citados, e concordo que ambos tiveram importantes papéis na música popular de seu tempo. Sempre admirei os Mutantes e quanto ao Floyd, por muito tempo na minha adolescência, minha preferência, inclusive, recaia sobre a fase Barrett. Tenho todos os discos de ambas as bandas, mas enxergo a coisa de outra forma: acho que são simplesmente pessoas com boas idéias musicais, que acabaram sendo mais valorizados devido à fama de loucos. Revolucionários, talvez, em seu contexto histórico e local, mas minha implicância reside no fato de qualquer coisa produzida por eles, automaticamente, ser taxada como genial. Se eu não estiver conseguindo passar corretamente a idéia, acho que essa tirinha dos Skrotinhos, do Angeli, retrata bem o que quero expressar:

Qualquer um que analisar friamente a carreira solo de nossos protagonistas vai enxergar que uma parte significativa é formada por idéias nem ao menos minimamente aproveitáveis, e que se fossem cometidas por qualquer outro de nós, meros mortais, seriam motivo de chacota. Para uma idéia melhor do que estou querendo dizer, escutem o último disco solo de Baptista, “Let it Bed”, que re-escuto enquanto escrevo esse texto, como que para dar uma última chance. Mas não... Arnaldo que me perdoe, mas não dá. A recepção efusiva da crítica à seu lançamento só aumenta o contraste quando notamos quão fraco é o material.

Tenho uma história pessoal que reflete bem essa questão do subjetivimo artístico. Como já torturei muitos amigos próximos com esse falatório, se você é um deles pare de ler por aqui.

Há alguns tempo visitei o museu de arte moderna de Paris e, embora tenha visto coisas muito legais, fiquei um pouco revoltado com outras que, nem sob tortura, admitiria como arte. Então, após algum tempo tirei uma foto admirando o alarme de incêndio do corredor como se fosse uma obra de arte.

Nesse momento uma mulher que trabalhava no museu, chegou soltando fogo pelas ventas, e me proibindo de tirar a foto. Sendo pego de surpresa e como se tratava de um equipamento de segurança, achei que houvesse regras quanto a isso e, simpaticamente, argumentei que poderia apagar a foto.Mas ela continuou me perguntando sobre a foto e aí eu vi que ela tinha entendido perfeitamente minha intenção e tinha ficado ofendida com ela. Quando enxerguei isso encerrei a discussão, dizendo secamente que tirei a foto porque quis, e ela saiu pisando forte.

A prova do crime

Agora vejamos: euzinho aqui um mero mortal tento me expressar de uma forma, diga-se, mais inteligente do que boa parte das obras daquele museu, e sou veementemente recriminado. Se eu fosse um "artista", com roupa de artista, cara de artista, crachazinho de artista e com algum crítico respeitado me chamando de artista (e, talvez, com uma boininha artística na cabeça), poderia expor aquela foto naquele mesmo museu, chamá-la de "Revolta - uma crítica à banalização da arte" e a mesma mulher furiosa, estaria me aplaudindo e cobrindo de elogios. Afinal arte não é sobre ousadia e causar uma reação no público?

Não sou defensor incontestável da arte como conceito puramente clássico, e sou capaz de admirar até um quadro pintado pelo balançar da cauda de um jumento. Se meu cérebro entender aquilo como uma combinação legal de cores e formas, para mim basta.

Só não me venham querer explicar as motivações do jumento, nem taxarem a pobre montaria de genial.
Fazer uma coisa diferente e/ou esquisita não faz dela, necessariamente, uma obra de arte. Mas acontece que quando alguém, teoricamente habilitado a fazê-lo, baixa o decreto de que aquilo ali é uma obra de arte, todas as ovelhas vão atrás aplaudindo.
DuChamp que me perdoe, mas expor um mictório de banheiro masculino em um pedestal, e nomear a isso de ready-made art , por si só não o faz arte.

Poder até ser que todo gênio seja, de alguma forma, louco, mas considerar o contrário essencialmente verdadeiro é, como se diz mesmo?

Ah, lembrei! Loucura.

* O título do post vem da faixa de abertura de Loki?, primeiro álbum-solo de Arnaldo Baptista, lançado em 1974, e que, vamos ser justos, é bem melhor do que o "Let it bed".

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O Sentido do Vida

A primeira vez que assisti a algum material do Monty Python, foi na minha adolescência. Gravei “O cálice sagrado”, que passou em uma sessão na madrugada, para conferir depois. Lembro de, ao assistir ao filme com meu irmão, ter repetido aquela cena dos cavaleiros que dizem Ni uma dúzia de vezes seguidas, sem conseguir parar de rir.

De lá para cá, assisti a outros clássicos do grupo como “A vida de Brian” e “O sentido da vida”, me tornei fã absoluto dos filmes do Terry Gilliam (principalmente, mas não somente, de “Os 12 macacos”), admirador de tantos outros dirigidos e/ou estrelados por outros membros do elenco, e tomei contato com o “Monty Phyton’s Flying Circus”, programa transmitido, na Inglaterra, pela BBC entre os anos de 1969 e 1974.

Na minha visão, o Python é como jiló, ou você gosta de verdade ou não. Sou capaz de assistir por horas seguidas a seus esquetes de humor anárquico e non-sense, mas consigo entender perfeitamente que o que torna sua produção tão atraente a meus olhos seja, exatamente, o que repele parte do público. Estes acham seus quadros as coisas mais bestas e sem graça do mundo (por algum motivo ainda ignorado pela ciência, esse grupo é formado em sua maioria por mulheres).

Enfim, por que isso agora? A questão é que recentemente assisti a um vídeo sobre o memorial de Graham Chapman.

Chapman foi um dos seis Python, e talvez seja conhecido pela maioria no papel de Rei Arthur em “O cálice sagrado” e como o protagonista de “A vida de Brian”. Em novembro de 1988 teve diagnosticado um raro tipo de câncer cervical morrendo, aos 48 anos, em 4 outubro de 1989, véspera da exibição do programa de comemoração do vigésimo aniversário da primeira transmissão do Flying Circus, para o qual ainda havia conseguido gravar algumas cenas. Seu colega de elenco, Terry Jones classificou esse fato como o pior caso de fura-festa em toda a história.

Mas então, o vídeo.

Essa filmagem mostra um memorial em sua homenagem, ocorrido cerca de dois meses após sua morte. É interessante observar como um momento que teria tudo para ser introspectivo e carregado de tristeza, é completamente subvertido pelos colegas de Chapman. A princípio causa um pouco de estranhamento ver piadas em um momento como esse, o que contraria todas as nossas tradições e instintos, mas é tocante ver como mesmo obviamente sofrendo com sua ausência, seus amigos prestam uma grande homenagem na forma que achavam que Chapman teria preferido. São feitas várias referências a momentos Python, como o esquete do papagaio morto, logo ao início, e a música "Always Look on the Bright Side of Life" de “A vida de Brian”, ao final

Muito bonito.

Acho que eu gostaria de ser lembrado desta maneira.



E aqui, para quem não conhece, a interpretação original de "Always Look on the Bright Side of Life" no filme, com o próprio Chapman crucificado, como Brian.



E o esquete do papagaio morto:

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Água mole em pedra dura...

Então, aconteceu...

Depois de muita gente me perturbando insistindo, finalmente resolvi passar para o lado de lá (ou de cá, já que já estou escrevendo isso aqui no blog). Devo essa minha decisão a um punhado de bons amigos, bloguistas juramentados, que, como já disse me pentelharam fizeram questão que eu passasse a mostrar um pouco do meu eu (já que seria mais difícil mostrar o seu você ou o deles eles).

Seria injusto de minha parte não citar também como pentelhador catalisador dessa idéia meu irmão mais velho, que chegou a ameaçar abrir um blog em meu nome e escrever um monte de barbaridades, para que eu tivesse que assumir o leme para salvar minha honra.

Sobre o nome, confesso que o processo foi completamente dadaísta. De uma lista de nomes absolutamente díspares e praticamente aleatórios, esse me soou legal. Depois que eu imaginei usar a imagem de Bufford "Mad Dog" Tannen (vide "Back to the Future 3"), não adiantava mais negar. Tinhamos um vencedor.

Vocês devem estar se perguntando sobre o que vou escrever aqui, qual será a linha mestra que conduzirá minhas divagações.

Boa pergunta...

...


Não, é sério, boa pergunta mesmo.

Eu não faço idéia.

Entre outros exemplos, não tenho o dom de transformar as mínimas coisinhas cotidianas em épicos grandiosos, como o Rob, guru de todos nós. Ou a sensibilidade poética da Barbarella. Ou a visão lírico-psicopato-romântica do Tyler...

Ou seja, definitivamente, este não será um blog temático (traumático talvez).

Então vocês vão ter que se contentar comigo mesmo. Mesmo que por vocês entenda-se aqueles grilinhos que ficam fazendo barulho nos desenhos para mostrar que não tem ninguém por perto.

Se nem os grilos conseguirem suportar, reclamem com meus incentivadores.

Sendo assim,

3, 2, 1, vai!

P.S.: Peço um pouco de paciência aos grilos porque pode levar um tempo até eu me acertar com essa realidade...

P.S.2: Agora a sério, obrigado a meus incentivadores. Espero que vocês não tenham criado um monstro.

P.S.3: Como, diabos, se consegue formatar o texto com aquele efeito de riscado?! (Consegui! Valeu, Tyler)